Em épocas de campanhas políticas, é bom dar uma lida no que fazem com a gente...
(...) Como insumo central para a construção destas couraças de caráter que nos defendem da ternura e nos predispõem à paranóia, a cultura ocidental impõe ano nosso corpo uma relação bastante funcional, produtiva e automatizada, onde os laços afetivos com o ambiente passam em grande parte despercebidos. O médico aprende que não deve sentir como a sua a dor de seus pacientes, para que possa tratá-los de maneira genérica dentro da rotina hospitalar. Ensina-se ao professor a manipular os alunos, a fim de obter aprendizagem, sem deixar-se arrastar pela singularidade de suas vivências. O político aprende a manejar massas, constituições e decretos, que incidem sobre o "bem comum", sem deixar-se arrastar pelos casos individuais, pois se acha que desta maneira perderia sua eficácia. Todos esses casos são exemplos de que Ivan Illich chamou de INCOMPETÊNCIA ESPECIALIZADA, reconhecida e diplomada pelas universidades. Para ser bem sucedido em nossa cultura, é imperioso tornar-se insensível a muitas vivências singulares, a fim de assumir uma máscara estereotipada que não delate nossas emoções nem as nossas dúvidas, isto é, que não denuncie a radical diferença daqueles fenômenos com os quais entramos em contato. Afirma-se que o bom político não deve ter muitos escrúpulos, como o bom general não pode levar em conta o sentir pessoal de cada soldado, mas o êxito global da batalha.
trecho do livro "O direito à Ternura" de Luis Carlos Restrepo, p. 27
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