quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Domínios comportamentais

O relato abaixo foi retirado do livro "A árvore do conhecimento" de H. Maturana e F. Varela. p. 143

(....) é o caso dramático das duas meninas indianas de uma aldeia bengali do norte da Índia. Em 1922, elas foram resgatadas (ou arrancadas) de uma família de lobos que as haviam criado em completo isolamento de todo contato humano. Uma das meninas tinha oito anos e a outra cinco. A menor morreu pouco depois de encontrada e a maior sobreviveu cerca de dez anos, juntamente com outros órfãos com os quais foi criada. Ao serem achadas, as meninas não sabiam caminhar sobre os pés e se moviam rapidamente de quatro. Não falavam e tinham rostos inexpressivos. Só queriam comer carne crua e tinham hábitos noturnos. Recusavam o contato humano e preferiam a companhia de cães ou lobos. Ao serem resgatadas, estavam perfeitamente sadias e não apresentavam nenhum sintoma de debilidade mental ou idiotia por desnutrição. Sua separação da família lupina produziu nelas uma profunda depressão, que às levou à beira da morte, e uma realmente faleceu.
A menina que sobreviveu dez anos acabou mudando seus hábitos alimentares e ciclos de vida e aprendeu a andar sobre os dois pés, embora sempre recorresse à corrida de q
quatro em situações urgentes. Nunca chegou propriamente a falar, embora usasse algumas palavras. A família do missionário anglicano que resgatou e cuidou dela, bem como outras pessoas que a conheceram com alguma intimidade, jamais a sentiram como verdadeiramente humana. (...)


quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Estimulação Visual

Meu começo do trabalho com cegos foi na época em que não se deixava a criança com baixa visão usar o resíduo da visão, para ler, escrever ou mesmo qualquer atividade cotidiana. Hoje, sabe-se que, mais de 80% das pessoas rotuladas como cegas possuem algum resíduo visual, por menor que seja. Além disso, nos tempos atuais, comprovado cientificamente, os resíduos de visão devem ser explorados ao máximo. É o que chamamos de estimulação visual.
Naqueles idos, as pessoas com baixa visão, além de não usarem o pouco da visão, também eram tratadas como cegas totais. Todas as atenções eram para compensar a falta de recursos e conhecimentos técnicos.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Corpo, consumo e reflexão

Praticantes de esporte como eu, proletários sem causa própria, trabalhadores de indústrias de consumo são pessoas que disciplinam seus corpos para uma causa. Não sei exatamente se sabemos por que fazemos isso, mas reflexões são necessárias. Foucault, se refere à estes processos de "disciplina" como uma necessidade de se manter em trabalho, um processo que se origina no séc. XVIII. Como professor universitário, vejo este disciplinamento nas salas de aula, como normas em todas as escolas. Administra pessoas, evita revoluções e "formata" os cidadãos.
A lógica do mercado está nestas normas acadêmicas e sem perceber, todos acabam "formados". Estes atos são tão sutis que, não me assusta o escândalo da micro saia(a faculdade paulista que quer expulsar uma aluna), me assustaria se os alunos se reunissem para reclamar dos conteúdos dos programas acadêmicos ou mesmo para reclamar das altas taxas da mensalidade da Faculdade.
E os corpos continuam sendo "disciplinados"

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Fenomenologia da percepção das cores

(...) Em 1888, o doutor Verry, médico oftalmologista em Neuchâtel, durante a autópsia de um de seus doentes que perderam a visão das cores, descobre um tumor situado fora do córtex estriado (ou seja, fora da área visual primária, V1). Existiria portanto, conclui ele, um "centro do sentido das cores" no lobo occipital.
Mas os neurologistas permaneceram céticos, porque a perda da visão de cores (a acromatopsia) é em geral, acompanhada de um escotoma, isto é, de um ponto cego do campo visual, que uma lesão da área visual primária induz. Eles pensavam que a visão das cores vinha de uma parte particularmente sensível dela. "É clássico considerar a acromatopsia como resultante de uma lesão leve da esfera visual", escreviam Pierre Marie & Chatelin em 1915.

A percepção de cores exige a participação do receptor periférico (olho) e do analisador central (a área V4 do cérebro). Os dois elementos do par funcional são necessários. Em sua forma pura, o daltonismo testemunha a responsabilidade dos CONES na visão de cores: o vermelho ou o verde (ou ambos) não são percebidos porque os cones não foram dotados de pigmentos dessas cores, por causa de um gene deficiente do cromossoma X.

Philippe Meyer, p. 55