"O essencial é visto pelo coração”, dizia Saint-Éxupéry.
Também se torna visível pelo meu sonho de uma nova Antígona que não seja somente a que nos propõem as imagens visuais.
O olhar aproximado dos deficientes da vista possibilita a percepção material do substrato do mundo e do nosso corpo, ainda que seja no espelho velado da visão do cego.
Este reflexo não representa perigo de suicídio pela identificação absoluta do sujeito com o objeto, isto é, daquele que olha e daquele que vê e se sabe insubstituível na sua presença corporal.
Referindo-me aos intérpretes gregos do oráculo, sustento que a palavra do corpo ferido do cego pode portar nela uma força redentora e evidenciar o conteúdo abstrato e mentiroso das realidades virtuais que ficam sem volume nem consistência perceptíveis pelo nosso corpo.
Para mim, a única possibilidade de me assegurar da existência é um corpo-a-corpo permanente do objeto da percepção com o sujeito que percebe.
Na minha qualidade de fotógrafo, tento considerar a câmara escura como espaço infinito em que as imagens podem surgir.
Também nossa terra é uma câmara escura onde os astrofísicos podem às vezes observar as estrelas diretamente, mas no mais das vezes às cegas, com a ajuda de instrumentos e da imaginação, conforme observa o astrofísico Peter Von Balmoos.
‘A obscuridade do momento vivido” não diz respeito somente aos cegos, mas a toda a humanidade em busca do infinito.
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