A filosofia acunhou um aforismo, válido não só para os cegos, que continua vigente para a formação e educação: não há nada na inteligência que não tenha estado previamente nos sentidos. Em outras palavras, a percepção sensorial constitui o fundamento do conhecimento. Por isso, não é casual que a Pedagogia moderna conceda valor extraordinário ao treinamento dos sentidos já na época precoce da vida da criança (Duren, 1980).
As crianças deficientes visuais graves e cegas passam, no seu desenvolvimento pela mesma progressão que as crianças normais, embora não cheguem a alcançar um desenvolvimento normal no seu processo evolutivo, se não for provocada uma situação satisfatória para que isso se produza.
PIÑERO, D.M.Corbacho
segunda-feira, 27 de julho de 2009
Carlos Castañeda - Os ensinamentos de Dom Juan
Qualquer caminho é apenas um caminho e não constitui insulto algum - para si mesmo ou para os outros - abandoná-lo quando assim ordena o seu coração. (...) Olhe cada caminho com cudado e atenção. Tente-o tantas vezes quantas julgar necessárias...Então, faça a si mesmo e apenas a si mesmo uma pergunta: possui esse caminho um coração? Em caso afirmativo, o caminho é bom. Caso contrário, esse caminho não possui importância alguma.
quarta-feira, 22 de julho de 2009
"Elixir do Pajé"
"Que tens, caralho, que pesar te oprime
que assim te vejo murcho e cabisbaixo
sumido entre esta basta pentelheira,
mole, caindo perna abaixo".
Assim começa "Elixir do Pajé", poema de Bernardo Guimarães publicado clandestinamente em 1875. Ele trata de um assunto que assombrava a sociedade patriarcal: a impotência sexual masculina. Considerada verdadeira maldição, ela provocava profundo sofrimento e situações de humilhação entre os homens. Ao longo de séculos, não faltam indicações de sonho de ereções permanentes e infatigáveis, mostrando que a obrigação da virilidade habita há tempos a nossa cultura. Mas por que tanta ansiedade? Está na bíblia: "Crescei e multiplicai-vos".
(...) Fundamentado em sua convivência com os indianos, Garcia da Orta sabia que o ópio era usado para agilizar a "virtude imaginativa" e a retardar a "virtude expulsiva" ou seja: controlar o orgasmo e a ejaculação. Além destes dois produtos, Orta menciona o betel, uma piperácea cuja folha se masca em muitas regiões do Oceano Índico.
(...) A erotomania, "doença" provocada pelo uso excessivo de afrodisíacos, era combatida com sangrias e banhos gelados.
- Revisa de História - Biblioteca Nacional. n. 40, jan. 2009, p. 19
que assim te vejo murcho e cabisbaixo
sumido entre esta basta pentelheira,
mole, caindo perna abaixo".
Assim começa "Elixir do Pajé", poema de Bernardo Guimarães publicado clandestinamente em 1875. Ele trata de um assunto que assombrava a sociedade patriarcal: a impotência sexual masculina. Considerada verdadeira maldição, ela provocava profundo sofrimento e situações de humilhação entre os homens. Ao longo de séculos, não faltam indicações de sonho de ereções permanentes e infatigáveis, mostrando que a obrigação da virilidade habita há tempos a nossa cultura. Mas por que tanta ansiedade? Está na bíblia: "Crescei e multiplicai-vos".
(...) Fundamentado em sua convivência com os indianos, Garcia da Orta sabia que o ópio era usado para agilizar a "virtude imaginativa" e a retardar a "virtude expulsiva" ou seja: controlar o orgasmo e a ejaculação. Além destes dois produtos, Orta menciona o betel, uma piperácea cuja folha se masca em muitas regiões do Oceano Índico.
(...) A erotomania, "doença" provocada pelo uso excessivo de afrodisíacos, era combatida com sangrias e banhos gelados.
- Revisa de História - Biblioteca Nacional. n. 40, jan. 2009, p. 19
terça-feira, 14 de julho de 2009
Instrumento para ajudar o diagnóstico de TRaços Autísticos
Meu grupo de pesquisa está validando um Instrumento de Pesquisa para Avaliação de Traços Autísticos (ADATA). Este instrumento, se aprovado, pode colaborar com o diagnóstico e acompanhamento de crianças autistas. Em seguida, apresento o Instrumento, adaptado de ASSUMPÇÃO JR, F. B. et al.
Você também pode colaborar com a pesquisa; aplique o Instrumento na sua Escola e depois nos avise o que achou do Instrumento.
Aguardo seu comentário
Você também pode colaborar com a pesquisa; aplique o Instrumento na sua Escola e depois nos avise o que achou do Instrumento.
Aguardo seu comentário
Instrumento de Avaliação de Traços Autísticos - ADATA
FACULDADE DE ARTES DO PARANÁ - FAP
GRUPO DE ESTUDOS SOBRE AUTISMO
Escala de avaliação de traços autísticos (Adaptada)
Observador:
Data: Hora:
Nome:
Idade:
Diagnóstico:
TRAÇOS AUTÍSTICOS
>Dificuldade de interação social 0 - 1 - 2 - 3
Desde não sorrir até isolamento intenso.
>Dificuldade de manipulação do ambiente 0 - 1 - 2 - 3
Desde não responder às solicitações até ir de um lugar ao outro e não parar de falar.
>Utilização das pessoas ao redor 0 - 1 - 2 - 3
Desde utilizar-se do adulto como um objeto atéinterferir na conduta do adulto.
>Resistência à mudanças 0 - 1 - 2 - 3
Desde manter a rotina até persistir em não mudar de atividade.
>Busca de ordem rígida 0 - 1 - 2 - 3
Desde ordenar de forma própria os objetos até prender-se à correspondência pessoa-lugar
>Falta de contato visual / olhar indefinido 0 - 1 - 2 - 3
Desde não olhar nos olhos até fdar a impressão de que não está olhando.
>Mímica inexpressiva 0 - 1 - 2 - 3
Desde de não expressar na face o que sente até a imobilidade facial.
>Distúrbio do sono 0 - 1 - 2 - 3
Desde não querer ir dormir até dormir poucas horas.
>Alteração da alimentação 0 - 1 - 2 - 3
Desde comer sempre o mesmo tipo de alimento até ausência do paladar.
>Dificuldade de controle dos esfíncteres 0 - 1 - 2 - 3
Desde medo de sentar-se no vaso até possuir apenas controle diurno dos esfíncteres.
>Dificuldade de exploração de objetos 0 - 1 - 2 - 3
Desde morder e engolir objetos até examinar os objetos de maneira minuciosa.
>Uso inapropriado de objetos 0 - 1 - 2 - 3
Desde ignorar os objetos até utilizá-los de maneira estranha.
>Falta de atenção 0 - 1 - 2 - 3
Desde fixar a atenção por curtos períodos de tempo até dar a impressão de estar ausente.
>Ausência de interesse pela aprendizagem 0 - 1 - 2 - 3
Desde não querer aprender até querer mudar repentinamente de atividade.
>Falta de iniciativa 0 - 1 - 2 - 3
Desde ser incapaz de ter iniciativa própria até preferir que outro faça a atividade para ele.
>Alteração da linguagem e comunicação 0 - 1 - 2 - 3
Desde estereotipias vocais até dificuldades para formular um diálogo.
>Não manifesta habilidade e conhecimento 0 - 1 - 2 - 3
Desde não realizar uma coisa se não quiser até surpreender por suas habilidades ineperadas.
>Reações inapropriadas ante a frustração 0 - 1 - 2 - 3
Desde reações de desagrado quando contrariado até reações de birra por expectativas não cumpridas.
>Não assume responsabilidades 0 - 1 - 2 - 3
Desde não assumir responsabilidades até que precise ouvir muitas vezes uma consigna para fazê-la.
>Hiperatividade 0 - 1 - 2 - 3
Desde estar constantemente em movimento até desconcentrar-se com outros estímulos fora da atividade.
>Hipoatividade 0 - 1 - 2 - 3
Desde de não mover-se quando estimulada até executar movimentos de forma exageradamente lenta.
>Movimentos estereotipados e repetidos 0 - 1 - 2 - 3
Desde balenceio até movimentos estranhos e repetidos.
>Ignora o perigo 0 - 1 - 2 - 3
Desde expôr-se sem consciencia do perigo até parecer insensível à dor.
>Aparecimento das características antes dos 36 meses 0 - 1 - 2 - 3
Características observadas até os 36 meses do bebê.
TOTAL DE PONTOS -
Instrumento de Pesquisa já aplicado em diversas escolas do Paraná e São Paulo
obs: se você pretende testar este Instrumento de Pesquisa e colaborar com a Validação do mesmo, por favor, faça contato comigo: cfmosquera@gmail.com
GRUPO DE ESTUDOS SOBRE AUTISMO
Escala de avaliação de traços autísticos (Adaptada)
Observador:
Data: Hora:
Nome:
Idade:
Diagnóstico:
TRAÇOS AUTÍSTICOS
>Dificuldade de interação social 0 - 1 - 2 - 3
Desde não sorrir até isolamento intenso.
>Dificuldade de manipulação do ambiente 0 - 1 - 2 - 3
Desde não responder às solicitações até ir de um lugar ao outro e não parar de falar.
>Utilização das pessoas ao redor 0 - 1 - 2 - 3
Desde utilizar-se do adulto como um objeto atéinterferir na conduta do adulto.
>Resistência à mudanças 0 - 1 - 2 - 3
Desde manter a rotina até persistir em não mudar de atividade.
>Busca de ordem rígida 0 - 1 - 2 - 3
Desde ordenar de forma própria os objetos até prender-se à correspondência pessoa-lugar
>Falta de contato visual / olhar indefinido 0 - 1 - 2 - 3
Desde não olhar nos olhos até fdar a impressão de que não está olhando.
>Mímica inexpressiva 0 - 1 - 2 - 3
Desde de não expressar na face o que sente até a imobilidade facial.
>Distúrbio do sono 0 - 1 - 2 - 3
Desde não querer ir dormir até dormir poucas horas.
>Alteração da alimentação 0 - 1 - 2 - 3
Desde comer sempre o mesmo tipo de alimento até ausência do paladar.
>Dificuldade de controle dos esfíncteres 0 - 1 - 2 - 3
Desde medo de sentar-se no vaso até possuir apenas controle diurno dos esfíncteres.
>Dificuldade de exploração de objetos 0 - 1 - 2 - 3
Desde morder e engolir objetos até examinar os objetos de maneira minuciosa.
>Uso inapropriado de objetos 0 - 1 - 2 - 3
Desde ignorar os objetos até utilizá-los de maneira estranha.
>Falta de atenção 0 - 1 - 2 - 3
Desde fixar a atenção por curtos períodos de tempo até dar a impressão de estar ausente.
>Ausência de interesse pela aprendizagem 0 - 1 - 2 - 3
Desde não querer aprender até querer mudar repentinamente de atividade.
>Falta de iniciativa 0 - 1 - 2 - 3
Desde ser incapaz de ter iniciativa própria até preferir que outro faça a atividade para ele.
>Alteração da linguagem e comunicação 0 - 1 - 2 - 3
Desde estereotipias vocais até dificuldades para formular um diálogo.
>Não manifesta habilidade e conhecimento 0 - 1 - 2 - 3
Desde não realizar uma coisa se não quiser até surpreender por suas habilidades ineperadas.
>Reações inapropriadas ante a frustração 0 - 1 - 2 - 3
Desde reações de desagrado quando contrariado até reações de birra por expectativas não cumpridas.
>Não assume responsabilidades 0 - 1 - 2 - 3
Desde não assumir responsabilidades até que precise ouvir muitas vezes uma consigna para fazê-la.
>Hiperatividade 0 - 1 - 2 - 3
Desde estar constantemente em movimento até desconcentrar-se com outros estímulos fora da atividade.
>Hipoatividade 0 - 1 - 2 - 3
Desde de não mover-se quando estimulada até executar movimentos de forma exageradamente lenta.
>Movimentos estereotipados e repetidos 0 - 1 - 2 - 3
Desde balenceio até movimentos estranhos e repetidos.
>Ignora o perigo 0 - 1 - 2 - 3
Desde expôr-se sem consciencia do perigo até parecer insensível à dor.
>Aparecimento das características antes dos 36 meses 0 - 1 - 2 - 3
Características observadas até os 36 meses do bebê.
TOTAL DE PONTOS -
Instrumento de Pesquisa já aplicado em diversas escolas do Paraná e São Paulo
obs: se você pretende testar este Instrumento de Pesquisa e colaborar com a Validação do mesmo, por favor, faça contato comigo: cfmosquera@gmail.com
terça-feira, 7 de julho de 2009
Hormônio feminino influi no processamento auditivo
O estrógeno, um dos principais hormônios sexuais femininos, é essencial para o processamento das informações sonoras no cérebro e a formação de memória auditiv. A conclusão vem de um estudo conduzido pelo neurocientista brasileiro Raphael Pinaud, da Universidade de Rochester, em Nova York, Já se sabia que o estrógeno está associado ao funcionamento auditivo porque as mulheres que sofrem a retirada dos ovários, por exemplo, costumam apresentar rpoblemas de audição. A pesquisa mostra que o hormônio atua também de forma semelhante à de um neurotransmissor.
Revista Mente e Cérebro, n. 198, p, 19
Revista Mente e Cérebro, n. 198, p, 19
Respondendo algumas questões de provas
O lobo occipital está localizado na 2ª unidade funcional e é responsável pela imagem visual
O lobo temporal está localizado na 2ª unidade funcional e é responsável pela imagem auditiva
O lobo parietal está localizado na 2ª unidade funcional e é responsável pela imagem tátil cinestésica
O lobo frontal é responsável pela elaboração do pensamento, planejamento, programação de necessidades individuais e emoção
O lobo temporal está localizado na 2ª unidade funcional e é responsável pela imagem auditiva
O lobo parietal está localizado na 2ª unidade funcional e é responsável pela imagem tátil cinestésica
O lobo frontal é responsável pela elaboração do pensamento, planejamento, programação de necessidades individuais e emoção
sexta-feira, 3 de julho de 2009
MATURANA E VARELA
Lendo um pouco mais as teorias de F.Capra, enrosco nas teorias de H. Maturana e F.Varela. OS dois autores que, por sinal, o segundo foi aluno do primeiro, um dos discípulos preferidos, resolvem explicar um pouco melhor algumas teorias da orgnização viva. De uma forma livre e rápida, cito o que estes cientistas têm para nos dizer e comprometer. Escrevo em compromisso pela profundidade das idéias, principalmente do Chileno, Maturana:
...nosso problema é o da organização viva e, portanto, nosso interesse não estará nas propriedades dos componentes, mas sim, em processos e nas relações entre processos realizados por meio de componentes.
...o sistema nervoso não processa informações provenientes do mundo exterior mas, pelo contrário, CRIA UM MUNDO NO PROCESSO DA COGNIÇÃO.
...os cientistas têm por hipótese que a AIDS está arraigada numa ruptura de comunicação entre peptídios.
Para quem não conhece a teoria de "Santiago", vale a pena saber um pouco mais sobre estes autores.
...nosso problema é o da organização viva e, portanto, nosso interesse não estará nas propriedades dos componentes, mas sim, em processos e nas relações entre processos realizados por meio de componentes.
...o sistema nervoso não processa informações provenientes do mundo exterior mas, pelo contrário, CRIA UM MUNDO NO PROCESSO DA COGNIÇÃO.
...os cientistas têm por hipótese que a AIDS está arraigada numa ruptura de comunicação entre peptídios.
Para quem não conhece a teoria de "Santiago", vale a pena saber um pouco mais sobre estes autores.
quinta-feira, 2 de julho de 2009
Crianças fora da infância. Folha de São Paulo, 02 de julho de 2009
CONTARDO CALLIGARIS. Crianças fora da infância
Amparamos as crianças, mas excluímos as que não têm como encenar um futuro feliz
A FOLHA de 24 de junho (caderno Cotidiano) relatou uma estranha decisão do Supremo Tribunal de Justiça.Em Mato Grasso do Sul, em 2003, dois adultos, Zequinha Barbosa e Luiz Otávio F. da Anunciação, encontraram num ponto de ônibus, contrataram e levaram para um motel três moças que, na época, tinham 13, 14 e 15 anos. De uma delas, Anunciação tirou e armazenou fotos pornográficas.Em 2004, em primeira instância, Barbosa e Anunciação foram condenados, respectivamente, a cinco e sete anos de reclusão. Recorreram e, no ano seguinte, foram absolvidos pelo Tribunal de Justiça. Barbosa alegou que não participou do sexo, e Anunciação que ele não sabia que as garotas eram menores de 18 anos.Foi a vez da Procuradoria recorrer, e a coisa chegou ao Supremo Tribunal de Justiça, que decidiu assim: Anunciação é culpado por ter armazenado imagens pornográficas de uma menor, mas ele e Barbosa são absolvidos do crime de ter tido relações sexuais com menores. Por quê? Porque o Tribunal "considerou que não é crime manter relações sexuais com menores de 18 anos que sejam prostitutas". Ou seja, como não foram eles que "iniciaram" as meninas (ao sexo e à prostituição), eles não têm culpa.Curiosa contradição: se não é crime transar com uma menor que já transou, não se entende por que seria crime tirar e armazenar fotos pornográficas da mesma menor. Afinal, vai ver que alguém já tirou uma foto dela no passado.Mas isso é o de menos. Na linha de pensamento do STJ, também não haveria por que proibir o trabalho de crianças que já pediram esmola no farol -afinal, já trabalharam, não é? Da mesma forma, não seria crime estuprar uma mulher que já foi estuprada. E o que acontece com assaltar alguém que já foi assaltado? Ainda bem que, por sorte, não dá para matar alguém que já foi morto.A decisão do STJ não é uma excentricidade. Ao contrário, ela é reveladora de uma verdade que está escondida atrás de nossa "proteção" da criança e do adolescente.Nossa cultura decidiu separar as crianças dos adultos. Instituímos, por assim dizer, a infância como tempo da vida que deveria ser protegido tanto das necessidades (crianças não devem ganhar seu pão) quanto do desejo (chegamos a negar a sexualidade infantil).Tudo isso, aos poucos, acabou amparando efetivamente as crianças, mas a intenção inicial não era, propriamente, a de lhes reservar um destino melhor. Tratava-se de responder a uma necessidade dos adultos: mais ou menos duzentos anos atrás, com a progressiva crise de nossa fé no além e na eternidade das almas, as crianças se tornaram oficialmente nossa grande (e talvez única) garantia de continuidade, se não de eternidade. Morremos, e as crianças têm a missão de dar seguimento à nossa vida. Claro, gostaríamos que nosso futuro fosse melhor que nosso presente, portanto queremos que as crianças encenem, para nosso contentamento, uma visão de paraíso que compense nosso purgatório ou inferno cotidianos.Qual melhor consolação, para nós, cujas esperanças foram frustradas, do que a de contemplar nas crianças a felicidade que nos escapa? Somos infelizes e a vida é dura? Pois bem, faremos o que é preciso para que as crianças sejam (ou pareçam) felizes.Em suma, amamos nas crianças apenas um sonho de nosso próprio futuro. E as crianças que não são "aptas" a encenar esse sonho não são propriamente crianças, pois o que definiria as crianças (as que queremos proteger) não seria sua idade, mas sua capacidade de encenar uma infância feliz.Pois bem, a decisão do STJ é fiel a essa inspiração originária de nossa cultura: pouco importa que ela tenha 12, 13, 15 anos ou menos, uma menor que se vende num ponto de ônibus já não tem mais como encenar para nós a vinheta da infância feliz. Portanto, ela não é mais "criança". Transar com ela não é mais transar com uma criança, não é?Essa lógica, aliás, vale para todas as crianças que, por uma razão ou outra, não podem mais (se é que um dia puderam) encenar o cartão postal sorridente que chamamos infância -por exemplo, as que encontramos nas esquinas ou dormindo debaixo das marquises de nossas ruas.Em suma, o STJ decidiu como se quisesse proteger não as crianças (como manda a letra da lei), mas o mito da infância. A Procuradoria recorrerá. Veremos como decidirá o Supremo Tribunal Federal.
Amparamos as crianças, mas excluímos as que não têm como encenar um futuro feliz
A FOLHA de 24 de junho (caderno Cotidiano) relatou uma estranha decisão do Supremo Tribunal de Justiça.Em Mato Grasso do Sul, em 2003, dois adultos, Zequinha Barbosa e Luiz Otávio F. da Anunciação, encontraram num ponto de ônibus, contrataram e levaram para um motel três moças que, na época, tinham 13, 14 e 15 anos. De uma delas, Anunciação tirou e armazenou fotos pornográficas.Em 2004, em primeira instância, Barbosa e Anunciação foram condenados, respectivamente, a cinco e sete anos de reclusão. Recorreram e, no ano seguinte, foram absolvidos pelo Tribunal de Justiça. Barbosa alegou que não participou do sexo, e Anunciação que ele não sabia que as garotas eram menores de 18 anos.Foi a vez da Procuradoria recorrer, e a coisa chegou ao Supremo Tribunal de Justiça, que decidiu assim: Anunciação é culpado por ter armazenado imagens pornográficas de uma menor, mas ele e Barbosa são absolvidos do crime de ter tido relações sexuais com menores. Por quê? Porque o Tribunal "considerou que não é crime manter relações sexuais com menores de 18 anos que sejam prostitutas". Ou seja, como não foram eles que "iniciaram" as meninas (ao sexo e à prostituição), eles não têm culpa.Curiosa contradição: se não é crime transar com uma menor que já transou, não se entende por que seria crime tirar e armazenar fotos pornográficas da mesma menor. Afinal, vai ver que alguém já tirou uma foto dela no passado.Mas isso é o de menos. Na linha de pensamento do STJ, também não haveria por que proibir o trabalho de crianças que já pediram esmola no farol -afinal, já trabalharam, não é? Da mesma forma, não seria crime estuprar uma mulher que já foi estuprada. E o que acontece com assaltar alguém que já foi assaltado? Ainda bem que, por sorte, não dá para matar alguém que já foi morto.A decisão do STJ não é uma excentricidade. Ao contrário, ela é reveladora de uma verdade que está escondida atrás de nossa "proteção" da criança e do adolescente.Nossa cultura decidiu separar as crianças dos adultos. Instituímos, por assim dizer, a infância como tempo da vida que deveria ser protegido tanto das necessidades (crianças não devem ganhar seu pão) quanto do desejo (chegamos a negar a sexualidade infantil).Tudo isso, aos poucos, acabou amparando efetivamente as crianças, mas a intenção inicial não era, propriamente, a de lhes reservar um destino melhor. Tratava-se de responder a uma necessidade dos adultos: mais ou menos duzentos anos atrás, com a progressiva crise de nossa fé no além e na eternidade das almas, as crianças se tornaram oficialmente nossa grande (e talvez única) garantia de continuidade, se não de eternidade. Morremos, e as crianças têm a missão de dar seguimento à nossa vida. Claro, gostaríamos que nosso futuro fosse melhor que nosso presente, portanto queremos que as crianças encenem, para nosso contentamento, uma visão de paraíso que compense nosso purgatório ou inferno cotidianos.Qual melhor consolação, para nós, cujas esperanças foram frustradas, do que a de contemplar nas crianças a felicidade que nos escapa? Somos infelizes e a vida é dura? Pois bem, faremos o que é preciso para que as crianças sejam (ou pareçam) felizes.Em suma, amamos nas crianças apenas um sonho de nosso próprio futuro. E as crianças que não são "aptas" a encenar esse sonho não são propriamente crianças, pois o que definiria as crianças (as que queremos proteger) não seria sua idade, mas sua capacidade de encenar uma infância feliz.Pois bem, a decisão do STJ é fiel a essa inspiração originária de nossa cultura: pouco importa que ela tenha 12, 13, 15 anos ou menos, uma menor que se vende num ponto de ônibus já não tem mais como encenar para nós a vinheta da infância feliz. Portanto, ela não é mais "criança". Transar com ela não é mais transar com uma criança, não é?Essa lógica, aliás, vale para todas as crianças que, por uma razão ou outra, não podem mais (se é que um dia puderam) encenar o cartão postal sorridente que chamamos infância -por exemplo, as que encontramos nas esquinas ou dormindo debaixo das marquises de nossas ruas.Em suma, o STJ decidiu como se quisesse proteger não as crianças (como manda a letra da lei), mas o mito da infância. A Procuradoria recorrerá. Veremos como decidirá o Supremo Tribunal Federal.
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