“O patriotismo é o último refúgio dos canalhas.”
O tom é de Nelson Rodrigues, mas o autor da frase é Samuel Johnson, pensador inglês do século XVIII.
A frase se aplica perfeitamente ao contexto do papelão do Brasil na Olimpíada e ao triste papel desempenhado por parte de nossa imprensa, notadamente a sagaz Rede Globo.
As emissoras, revistas, jornais e sites venderam hectares de espaço a anunciantes de todos os tipos e tamanhos, o que permitiu que centenas, talvez milhares de jornalistas e equipes técnicas fossem enviados à China. Natural – principalmente as TVs – que, para garantirem público, berrassem dia e noite a participação brasileira, como se nossos atletas fossem todos top de seus esportes, nossos cartolas fossem geniais e o lépido Carlos Arthur Nuzmann, nosso Napoleão a comandar a invasão do Império do Meio e o carregamento de toneladas de ouro destinadas a nossa gentil taba tupi.
Foi – está sendo – insuportável tentar ouvir as transmissões da Globo, nas quais pontifica o puxa-saco-mor da República, Galvão Bueno, a vomitar uma bobagem atrás da outra. Ele e a maioria dos deslumbrados jornalistas em Pequim são nada éticos no exercício profissional, não passam de patriotas de arquibancada, que cantam nossas virtudes, prometem o que os atletas não podem cumprir e depois, “decepcionados”, dizem que valeu o esforço, afinal nossos “meninos e meninas” são uns heróis, nem têm o que comer, andam de ônibus.
Verdade em parte, como no caso do judoca Eduardo, que não tinha grana nem pra pagar o exame de faixa preta (que é bem caro, diga-se). Mas a grande maioria integra uma elite com o qual nem sonham os atletas que aqui ralam. Os heróis treinam no exterior, vivem bem, são preparados. Ou alguém acha que Cielo treina na piscina da União Desportiva e Recreativa de Santa Bárbara D´Oeste? Nem se fale aqui do pessoal do futebol, pois todos os que foram à China, mesmo os mais novinhos, são, antes de qualquer coisa, homens ricos. Em dinheiro, não em espírito, por óbvio.
Nossa imprensa nessa Olimpíada tem sido tão canalha que é até capaz de secar nossas últimas chances de medalha - na vela, no vôlei, no atletismo, o sonhado ouro no futebol feminino, defendido nesta quinta-feira com graça e vigor por mulheres que, sim, são heroínas em tudo e por tudo.
Nesta sexta, obviamente, já sabemos o resultado da final. Mas sabemos, sobretudo, que aquelas mulheres não correram por patriotismo, pois a pátria de chuteiras as mantém abandonadas desde sempre. Correram em nome do esporte que praticam com tanta arte e valentia, correram por elas e pela cicatriz prateada da Olimpíada de Atenas, correram por nós que as amamos sejam quais forem seus resultados mundo afora.
Nós, aqui, aplaudimos Marta, Phelps, Bout, Shawn, Fabiana Murer e a russa de nome estranho que promete chegar ao céu. Nós aplaudimos Scheidt e os chineses da ginástica, Maurren e os cubanos do boxe, Rodrigo e todos os ciclistas. E assim por diante.
Que fique o patriotismo por conta de Galvão e seus sequazes.
Em tempo: nossa goleira está desempregada.
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Jorge Eduardo França Mosquera, jornalista em Curitiba.
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