segunda-feira, 30 de julho de 2007

LEITURAS NECESSÁRIAS

Na minha clínica com crianças cegas e autistas, preocupo-me sempre com a família destas crianças, uma realidade difícil e cruel, talvez imaginável para a grande maioria da sociedade. Atendo uma clientela deficiente poucas vezes na semana, cumpro um dever profissional, tento ignorar o sofrimento destes pais mas, sempre carrego comigo esta experiência. Por isso que, toda vez que alguém reclama pra mim da vida, sempre recomendo a leitura do romance de Tolstoi, "A MORTE DE IVAN ILYCH". A mensagem do livro é a seguinte: ...um burocrata maldoso que estava morrendo em agonia, depara-se com uma súbita e assombrosa percepção bem no fim da sua vida; ele nota que está morrendo muito mal porque viveu muito mal. Tenho uma teoria do mal Alzeihmer que ja escrevi aqui e reflete bem este pensamento do Tolstoi " se você não tiver uma história para contar, você padece de revoltas", apenas uma teoria sem conotação científica. Uma mensagem da internet que recebi hoje, reflete bem esta minha teoria "as vezes os próprios palhaços de circo precisam de público, se isso não for percebido por eles, a doença é iminente". Heidegger falava de dois modos de existência: o modo cotidiano e o modo ontológico (in Irvin Yalom, "Os desafios da terapia"). No modo cotidiano, somos consumidos e distraídos pelos meios materiais - ficamos assombrados em saber como as coisas são no mundo; no modo ontológio, nós nos concentramos em ser per se - isto é, ficamos assobrados em saber que as coisas são no mundo.
Mas como mudamos do modo cotidiano para o modo ontológico? Os filósofos frequentemente falam das "experiências limite". Experiências prementes que nos arrancam subitamente da nossa "cotidianidade" e fixam nossa atenção no próprio ser. A experiência limite mais poderosa é um confronto com a própria morte. Por isso comecei falando dos pais dos excepcionais e dos que gostam de reclamar da vida, talvez falte, para muitos, cuidar de uma criança deficiente ou passar por uma experiência limite.

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